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Triunfarão as ideias justas ou triunfará o desastre

Data: 

31/08/2014

Fonte: 

Cubadebate

A sociedade mundial não conhece trégua nos últimos anos, particularmente desde que a Comunidade Econômica Europeia, sob a direção férrea e incondicional dos Estados Unidos, considerou que tinha chegado a hora de ajustar contas com o que restava de duas grandes nações que, inspiradas nas ideias de Marx, tinham levado a cabo a proeza de pôr fim à ordem colonial e imperialista imposto ao mundo pela Europa e Estados Unidos.
 
Na antiga Rússia irrompeu uma revolução que comoveu ao mundo.
 
Esperava-se, que a primeira grande revolução socialista teria lugar nos países mais industrializados da Europa, como Inglaterra, França, Alemanha e o Império Austro-húngaro. Esta, no entanto, teve lugar na Rússia, cujo território se estendia pela Ásia, desde o norte da Europa até o Sul do Alaska, que tinha sido também território czarista, vendido por uns dólares ao país que seria posteriormente o mais interessado em atacar e destruir a revolução e o país que a engendrou.
 
A maior proeza do novo Estado foi criar uma União capaz de agrupar seus recursos e compartilhar sua tecnologia com grande número de nações frágeis e menos desenvolvidas, vítimas inevitáveis da exploração colonial. Seria ou não conveniente no mundo atual uma verdadeira sociedade de nações que respeitasse os direitos, crenças, cultura, tecnologias e recursos de lugares acessíveis do planeta que tantos seres humanos gostam de visitar e conhecer? E não seria bem mais justo que todas as pessoas que hoje, em frações de segundo se comunicam de um extremo a outro do planeta, vejam nos demais um amigo ou um irmão e não um inimigo disposto a exterminá-lo com os meios que tem sido capaz de criar o conhecimento humano?
 
Por acreditar que os seres humanos poderiam ser capazes de acolher tais objetivos, penso que não há direito algum a destruir cidades, assassinar crianças, pulverizar moradias, a semear terror, fome e morte em todas partes. Em que rincão do mundo poderiam ser justificadas tais ações? Se recorda-se que ao final do massacre da última contenda mundial o mundo se iludiu com a criação das Nações Unidas, é porque grande parte da humanidade a imaginou com tais perspectivas, ainda que não estivessem cabalmente definidos seus objetivos. Um colossal engano é o que se percebe hoje quando surgem problemas que insinuam a possível eclosão de uma guerra com o emprego de armas que poderiam pôr fim à existência humana.
 
Existem sujeitos inescrupulosos, ao que parece não poucos, que consideram um mérito sua disposição a morrer, mas sobretudo a matar para defender privilégios vergonhosos.
 
Muitas pessoas se assombram ao ouvir as declarações de alguns porta-vozes europeus da OTAN quando se expressam com o estilo e o rosto das SS nazistas. Em ocasiões até se vestem com trajes escuros em pleno verão.
 
Nós temos um adversário bastante poderoso como o é nosso vizinho mais próximo: Estados Unidos. Lhe advertimos que resistiríamos ao bloqueio, ainda que isso pudesse implicar um custo muito elevado para nosso país. Não há pior preço que capitular frente ao inimigo que sem razão nem direito te agride. Era o sentimento de um povo pequeno e isolado. Os demais governos deste hemisfério, com raras exceções, tinham se somado ao poderoso e influente império. Não se tratava por nossa parte de uma atitude pessoal, era o sentimento de uma pequena nação que desde o início do século era uma propriedade não só política, mas também econômica dos Estados Unidos. Espanha nos havia cedido a esse país após ter sofrido quase cinco séculos de colonialismo e de um incalculável número de mortos e perdas materiais na luta pela independência.
 
O império se reservou o direito de intervir militarmente em Cuba em virtude de uma pérfida emenda constitucional que impôs a um Congresso impotente e incapaz de resistir. Aparte de ser os donos de quase tudo em Cuba: abundantes terras, as maiores centrais açucareiras, as minas, os bancos e até a prerrogativa de imprimir nosso dinheiro, nos proibia de produzir grãos alimentares suficientes para alimentar a população.
 
Quando a URSS se desintegrou e desapareceu também o Campo Socialista, seguimos resistindo, e juntos, o Estado e o povo revolucionários, prosseguimos nossa marcha independente.
 
Não desejo, no entanto, dramatizar esta modesta história. Prefiro bem mais destacar que a política do império é tão dramaticamente ridícula que não tardará muito em passar ao lixo da história. O império de Adolfo Hitler, inspirado na cobiça, passou à história sem mais glória que o alento concedido aos governos burgueses e agressivos da OTAN, que os converte em motivo de chacota da Europa e do mundo, com seu euro, que igual ao dólar, não tardará em se converter em letra morta, chamado a depender do yuan e também dos rublos, ante a pujante economia chinesa estreitamente unida ao enorme potencial econômico e técnico da Rússia.
 
Algo que tem se convertido em um símbolo da política imperial é o cinismo.
 
Como se conhece, John McCain foi o candidato republicano às eleições de 2008. O personagem veio à tona quando em sua condição de piloto foi derrubado enquanto seu avião bombardeava a populosa cidade de Hanói. Um foguete vietnamita o alcançou em plena operação e nave e piloto caíram em um lago localizado nas imediações da capital, próximo com a cidade.
 
Um antigo soldado vietnamita já aposentado, que ganhava a vida trabalhando nas proximidades, ao ver cair o avião e um piloto ferido que tentava se salvar se mobilizou para auxiliá-lo; enquanto o velho soldado prestava essa ajuda, um grupo da população de Hanói, que sofria os ataques da aviação, corria para ajustar contas com aquele assassino. O mesmo soldado persuadiu aos vizinhos que não o fizessem, pois era já um prisioneiro e sua vida devia ser respeitada. As próprias autoridades ianques se comunicaram com o Governo pedindo que nada fosse feito contra esse piloto.
 
Aparte das normas do Governo vietnamita de respeito aos prisioneiros, o piloto era filho de um Almirante da Armada dos Estados Unidos que tinha desempenhado um papel destacado na Segunda Guerra Mundial e estava ainda ocupando um importante cargo.
 
Os vietnamitas haviam capturado um peixe grande naquele bombardeio e como é lógico, pensando nos diálogos inevitáveis de paz que deviam pôr fim à guerra injusta que lhe tinham imposto desenvolveram a amizade com ele, que estava muito feliz de tirar todo o proveito possível daquela aventura. Isto, evidentemente, não me contou nenhum vietnamita, nem eu o teria perguntado nunca. Eu li e se ajusta completamente a determinados detalhes que conheci mais tarde. Também li um dia que Mister McCain havia escrito que, sendo prisioneiro no Vietnã, enquanto era torturado, escutou vozes em espanhol assessorando os torturadores sobre o que deviam fazer e como fazer. Eram vozes de cubanos, segundo McCain. Cuba nunca teve assessores no Vietnã. Seus militares conhecem amplamente como fazer sua guerra.
 
O General Giap foi um dos chefes mais brilhantes de nossa época, que em Dien Bem Phu foi capaz de situar os canhões por selvas intrincadas e abruptas, algo que os militares ianques e europeus consideravam impossível. Com esses canhões disparavam a partir de um ponto tão próximo que era impossível neutralizá-los sem que as bombas nucleares atingissem também os invasores. Os demais passos pertinentes, todos difíceis e complexos, foram empregados para impor às cercadas forças europeias uma vergonhosa rendição.
 
O zorro McCain tirou todo o proveito possível das derrotas militares dos invasores ianques e europeus. Nixon não pôde persuadir a seu conselheiro de Segurança Nacional Henry Kissinger, de que aceitasse a ideia sugerida pelo próprio Presidente quando em momentos de relaxamento lhe dizia: Por que não lhe lançamos uma dessas bombinhas Henry? A verdadeira bombinha chegou quando os homens do Presidente trataram de espionar seus adversários do partido oposto: Isso sim que não podia ser tolerado!
 
Apesar disso o mais cínico do Sr. McCain tem sido sua atuação no Próximo Oriente. O senador McCain é o aliado mais incondicional de Israel nas tramas de Mossad, algo que nem os piores adversários foram capazes de imaginar. McCain participou junto a esse serviço na criação do Estado Islâmico que se apoderou de uma parte considerável e vital do Iraque, bem como segundo se afirma, de um terço do território da Síria. Tal Estado conta já com subsídios multimilionários, e ameaça a Arábia Saudita e outros Estados dessa complexa região que fornece a parte mais importante do combustível mundial.
 
Não seria preferível, lutar para produzir mais alimentos e produtos industriais, construir hospitais e escolas para os milhares de milhões de seres humanos que necessitam disso desesperadamente, promover a arte e a cultura, lutar contra doenças massivas que levam à morte mais da metade dos doentes, trabalhadores de saúde ou tecnólogos que segundo se vislumbra, poderiam finalmente eliminar doenças como o câncer, o ebola, o paludismo, o dengue, a chikungunya, a diabetes e outras que afetam as funções vitais dos seres humanos?
 
Se hoje é possível prolongar a vida, a saúde e o tempo útil das pessoas, se é perfeitamente possível planificar o desenvolvimento da população em virtude da produtividade crescente, a cultura e desenvolvimento dos valores humanos, o que esperam para fazê-lo?
 
Triunfarão as ideias justas ou triunfará o desastre.
 

 

 

 


Fidel Castro Ruz 
31 de Agosto de 2014
10 e 25 p.m.